“Então,
esta é a minha vida. E quero que você saiba que sou feliz e triste ao mesmo
tempo, e ainda estou tentando entender como posso ser assim”.
O livro de Stephen Chbosky tornou-se mais conhecido
pelo grande público após a adaptação cinematográfica do mesmo, em 2012, tendo o
autor Stephen como roteirista, diretor e produtor, o que fez com que a obra
fosse adaptada de forma brilhante e fiel ao romance original. Porém, o livro
foi originalmente lançado nos Estados Unidos em 1999, e é baseado, em partes,
em lembranças reais da juventude do autor.
Nele, encontramos uma coleção de cartas escritas
por Charlie sobre sua vida, sobretudo a adolescência e o primeiro ano do Ensino
Médio, para alguém anônimo.
Charlie é um personagem cativante, cuja
introspecção nos comove profundamente durante a leitura.
Seu melhor amigo cometera suicídio. Agora, Charlie
vê-se sozinho no primeiro ano do colegial, fase conhecidamente difícil para
todos os jovens. Ainda mais para Charlie. Ele conta nas cartas sobre problemas
do seu passado e até sobre o tempo que passou no hospital, assim, esperamos
encontrar um jovem personagem repleto de conflitos e problemas tendo de lidar
com a escola e a pressão exercida pelos colegas mais populares.
Mas o livro é muito mais que isso. Justamente
porque Charlie é muito mais que isso.
Seu jeito doce e recatado faz com que testemunhe
cenas diversas ao longo de sua vida, nas quais observa problemas e momentos
difíceis da vida de várias pessoas ao seu redor, e Charlie guarda tudo para si.
É como se ele fosse uma testemunha invisível dos problemas e das dores do
mundo, desde quando era ainda muito pequeno. E ele vai guardando tudo, sabe de
tudo, e de outras coisas já não se lembra mais – tamanho o choque do ele
viveu...
“Só
queria que Deus, ou meus pais, ou minha irmã, ou alguém, me dissesse o que há
de errado comigo. Que me dissesse como ser diferente de uma forma que faça
sentido. Que fizesse tudo isso passar. E desaparecer. Sei que é errado, porque a
responsabilidade é minha, e sei que as coisas pioram antes de melhorar porque é
o que diz meu psiquiatra, mas essa fase pior está grande demais para mim”
(Pág. 149).
Charlie acaba fazendo amizade com veteranos do
colégio, Sam e seu meio-irmão Patrick. A amizade dos três cresce com a
narrativa, sendo eles responsáveis por introduzir Charlie em um grupo de amigos
e consequentemente ao mundo das festas, drogas e encontros.
Charlie continua observando tudo, sabendo de tudo,
mas, pela primeira vez, ele participa, é parte do grupo e tem bons amigos para
dividir momentos e lembranças.
“Decidi
na época que quando conhecesse alguém que eu achasse tão bonita quanto a
canção, eu daria o disco de presente a essa pessoa. E não quis dizer bonita por
fora. Eu quis dizer bonita de todas as formas. Eu estava dando para Sam”
(Pág. 78).
Somos conduzidos, através das cartas, para nossas
próprias lembranças, pois nos vemos ali, entre amigos, em uma noite qualquer,
ouvindo boa música e rindo de nós mesmos, com uma cerveja nas mãos. Nós
conseguimos sentir, junto de Charlie, quando foi a primeira vez que nos
sentimos infinitos. Era uma noite legal, com gente legal, nós éramos parte de
algo, estava tudo certo e parecia que nada daquilo teria fim...
A narrativa melancólica de autodescobrimento e
crescimento de Charlie é maravilhosa e não apenas faz com que nossa própria
adolescência seja sentida na pele, como faz com que amemos o personagem e sua
forma de ver a vida e ver as outras pessoas.
“Não
estava com vontade de ler naquela noite, então desci as escadas e assisti a um
comercial de meia hora que anunciava um aparelho de ginástica. O número de
discagem gratuita piscava na tela, então eu telefonei. A mulher que atendeu do
outro lado da linha se chamava Michelle. E eu disse a Michelle que era um
garoto e não precisava de aparelho de ginástica, mas que esperava que ela
tivesse uma boa noite. E então Michelle desligou na minha cara. E eu não me
importei nem um pouco” (Pág. 131).
Em alguns momentos, porém, a narrativa soa um pouco
infantilizada pelo tom com que Charlie narra os momentos de sua vida e a forma
como descreve certos acontecimentos. Assim como, o formato de cartas do livro
todo pode parecer um pouco cansativo. Contudo, nada que tire o brilho da obra.
O livro tem cenas ótimas envolvendo também Charlie
e sua irmã, Candace, que, infelizmente foram pouco abordadas na adaptação
cinematográfica; assim como a obra mostra a amizade inusitada construída entre
o protagonista e seu professor, que sempre lhe dá livros extras para ler – e
ele adora.
Charlie vive um romance consideravelmente tímido
com Sam, porém a amizade e o laço estabelecido entre eles também nos dão a
sensação de infinito.
Nós torcemos por eles e para que, de alguma forma,
os três amigos – incluindo o divertido Patrick – estejam sempre juntos.
Com ótimos personagens, uma história com gosto de
nostalgia e um final surpreendente, As vantagens de ser invisível é recomendado
a todos, tanto sua versão literária, como a excelente adaptação cinematográfica
da mesma.
“Sam
batucava com as mãos no volante. Patrick colocou o braço para fora do carro e
fazia ondas no ar. E eu fiquei sentado entre os dois. Depois que a música
terminou, eu disse uma coisa: ‘Eu me sinto infinito’. E Sam e Patrick olharam
para mim e disseram que foi a melhor coisa que já tinham ouvido (...). Cinco
minutos de toda uma vida tinham passado, e nós nos sentíamos jovens de uma
forma legal. Eu cheguei a comprar o disco, e contaria a você como foi, mas na
verdade não foi o mesmo que estar em um carro a caminho da sua primeira festa
de verdade, e você está sentado no meio da picape com duas pessoas legais
quando começa a chover” (Pág. 5).
“Com
amor,
Charlie”.
Informações:
Título:
As vantagens de ser invisível
Autor:
Stephen Chbosky
Gênero:
Romance, literatura juvenil
Editora:
Rocco
Páginas:
223
Borboletas azuis:
6 comentários:
Não sabia que o livro era em formatos de cartas, adorei isso! E apesar dele ainda não ser prioridade nas minhas próximas leituras eu espero poder ler ele em breve ^^ Fiquei curiosa para saber tudo sobre o doce Charlie :)
Beijos
Jhey,
www.passaporteliterario.com
ja assisti o filme estou louca para ler o livro
Esse é o melhor livro que já li na vida, e confesso que ainda sinto saudades de receber as cartas do Charlie. Gostei bastante da resenha, parabéns! Beijos =)
apsmass.blogspot.com
Eu li o livro antes do lançamento do filme, é simplesmente maravilhoso, fiquei um pouco assustada quando fiquei sabendo como era a leitura, mas depois que li simplesmente me apaixonei, Charlie é um garoto realmente muito especial.
Adorei o filme, mas o livro é perfeito.
Estou louca pra ler esse livro faz um bom tempo. Todos falam que é ótimo, mas nem o filme assisti. Eu não sabia que o livro é em formato de cartas, isso me assustou um pouco.
Ótima resenha, quero muito ler :3
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