“Sentia
como se meu coração pudesse explodir. É como se não pudesse conter tanta
beleza”.
Na companhia
das estrelas é um livro bonito e profundo em certos aspectos, porém, passei
o tempo todo com a sensação de que poderia ter sido melhor.
A história é boa, há personagens legais (gostei
muito do protagonista) e a escrita do autor é diferente, inusitada e
interessante, capaz de fazer as páginas passarem de forma rápida. Ainda assim,
faltou algo para a trama me conquistar completamente.
Conhecemos o protagonista Hig já em sua vida
pós-apocalíptica. O mundo não é mais o mesmo. Quase toda a população da terra
foi dizimada por uma gripe, e os que sobreviveram não vivem em um mundo como o
conhecemos hoje.
“O
não saber alguma coisa, a esperança, a dolorosa efemeridade: isso não é real,
não como pensamos, e então deixamos passar, deixamos que se desenrole com
leveza. O tempo que voa. É assim que parece agora quando olhamos para trás”
(Pág. 277).
As poucas pessoas restantes no planeta ou estão
doentes ou estão lutando para sobreviver em um ambiente não mais favorável,
matando-se por armamento, alimentação e abrigo.
Hig é um bom homem, com um bom coração, e repleto
de memórias – embora, segundo ele, já tenha chorado tudo o que devia, e,
portanto, cansou de fazer isso (pois “existe
uma dor da qual você não consegue se livrar”). Como os demais sobreviventes
do planeta, ele perdeu sua família, seus amigos e sua casa. Agora, vive em um
aeroporto, na companhia de seu velho cão, Jasper, e do um vizinho e amigo, Bangley.
Hig e Bangley não podiam ser mais diferentes, mas
são essas diferenças que geram bons diálogos ao decorrer da história, e,
inclusive, que garantem a sobrevivência um do outro – Bangley é treinado para
matar qualquer um que se aproxime da região em que eles vivem, enquanto Hig
percorre os céus em um antigo avião, tentando sempre visualizar qualquer
possível invasão ao perímetro.
Contudo, ele não está sozinho em seus voos. Jasper
tem sempre o lugar do copiloto.
“Daqui
de cima não havia infelicidade, sofrimento, conflitos, apenas desenhos e
perfeição. A quietude imortal da pintura de uma paisagem” (Pág. 68).
A amizade entre homem e cão é bem trabalhada, assim
como os conflitos e pensamentos de Hig, que enriquecem a narrativa e fazem com
que reflitamos o tempo todo sobre nosso mundo, nossa vida, as pessoas que
amamos – e como seria ficar sozinho, sem todas elas, em um mundo completamente
mudado e perigoso. Há grandes reflexões também a respeito do sentido de se
estar vivo, bem como sobre a morte.
“Mais
normais são as ausências (...). Fiquei pensando: morrer é assim? Ser solitário
dessa maneira? Estar fortemente ligado a uma grande quantidade de amor e passar
por cima dela, ignorá-la?” (Págs. 208 e 209).
Velhos hábitos ainda existem. Por exemplo, Hig
adorava pescar, e, quando pode, ainda leva Jasper para relaxar ao lado do rio –
embora muitas espécies e grande parte da natureza já não existam.
Porém, ele acaba descobrindo que já não se pode
viver como antigamente, nem por poucos momentos. O mundo já não permite certos
luxos, e até pequenos hábitos, antes inofensivos, agora podem ser perigosos.
Qualquer descuido custa uma vida. Essa é a sensação passada durante toda a
leitura.
Um dia, em um de seus voos, Hig capta um sinal de
transmissão no rádio e, sempre sonhador, pensa na possibilidade de contato com
outros seres humanos de forma amigável. Então, certo dia, ele faz um voo mais longo
do que costumava fazer, mudando os rumos da narrativa.
Trecho: “Apenas uma volta. Uma volta da roda e estamos diferentes, nunca os
mesmos. Jamais. Nem mesmo essas estrelas. Até elas decaem, desintegram-se,
aglutinam-se, separam-se. Fecho os olhos. É o que está por dentro. O que está
por dentro se movimentando, nadando em dor como um peixe cego nadando
eternamente. O que sobrevive é o que permanece. Renova-se, renova o amor e a
dor. O amor é o fundo do rio e a dor o preenche. Enche o rio de lágrimas todos
os dias” (Pág. 148).
Informações:
Título:
Na companhia das estrelas
Autor:
Peter Heller
Gênero:
Ficção, Distopia
Editora:
Novo Conceito
Páginas:
408
Borboletas azuis:
Agradecimentos à editora Novo Conceito, por ceder o livro para o blog. Saiba mais sobre ele clicando aqui.
3 comentários:
estou apaixonada pelo livro desde que vi sua capa e fiquei cativada por esse nome e fiquei com a impressão de ser bem parecido com o filme eu sou a lenda
http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Oi Thaila!
A capa desse livro é maravilhosa! Ela é toda metálica, me chamou a atenção desde que a vi!
Durante a leitura, eu realmente lembrei de "Eu sou a lenda", a atmosfera do texto é bem parecida mesmo.
Beijos,
Fabi
Me apaixonei pela esta capa e já o separei para ler em julho junto com outro, mas confesso que tenho medo quando me apaixono pelas capas porque nem sempre a história nos cativa da mesma forma.
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