O. A. Secatto
à amiga de letras
Fabiane Ribeiro
Entrevistado: O.A. Secatto nasceu em Fernandópolis, SP, em 1981. Formado em Direito, é servidor público estadual. Escritor, publicou em diversas antologias, em diferentes editoras, tendo tendência ao gênero Fantástico. Foi também o revisor dos meus três primeiros romances.
1. Quando começou a escrever e por qual razão?
Sempre gostei das letras e palavras e sorvia com ânimo inusual as aulas de português desde pequeno. Despretensiosamente, participei de concursos literários na minha cidade e fui premiado: foi a primeira vez (e das poucas) que vi meu pai chorar. Imagine se isso nos marca... Mais tarde, como o romântico deslocado na época, guardava todo amor para a pessoa certa. E achei: a minha Bella! Até encontrá-la, porém, precisava dar vazão a um oceano tempestuoso de emoções que me faziam tremer. Tudo começou com a poesia, então. Depois de anos de versos, das brincadeiras de criança, em que a imaginação voa solta, passei a fitar com olhos mais sérios minhas personagens e suas histórias. Passar para o papel foi consequência... A palavra escrita simplesmente me chamou; não pude resistir-lhe. Desde então, mais precisamente 2005, entre contos diversos para várias antologias, algumas poucas poesias e dois romances estruturados, mas não concluídos, venho desenvolvendo meu “Universo Sannyar” (nome de meu personagem principal). É um mundo fantástico que tange nossa realidade, mas pretende ir muito além. Mas isso se verá mais adiante, especialmente no meu site (www.oasecatto.com.br). Tudo a seu tempo...
2. Recebeu incentivo por parte dos familiares, quando criança, ao hábito da leitura? Lembra-se de algum livro que tenha marcado sua infância?
Sou o filho mais velho, e meus pais sempre tiveram uma vida de labuta: trabalharam desde muito pequenos, sendo que o trabalho no comércio lhes tolheu quase todo o tempo de que dispunham; o resto lhes tomamos nós, seus filhos... Dentro de casa, o hábito da leitura era tímido e, de fato, confesso que ainda sou um preguiçoso assumido. Não leio de tudo, mas leio muito do que gosto. Remexendo no passado, lembrei-me de que, depois que ganhei meu primeiro prêmio literário, meu pai deixou-me escolher um presente. Comprou-me, ali mesmo na recepção do evento, alguns números de uma velha enciclopédia usada (quer dizer, seminova). Devorei-os avidamente; e as ilustrações, é claro, ajudaram muito. Gostei, inexplicavelmente à época, das vidas de compositores, em especial Puccini. Muito mais tarde, Puccini voltaria à minha vida de uma forma avassaladora! Meu gosto pela ópera nasceu de uma composição sua: “Nessun Dorma!”, da ópera “Turandot”. Na voz de Pavarotti – não abro mão. Mas isso é uma outra história. De livros, nenhum em especial... A não ser, daqueles de leitura obrigatória na escola, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Fiquei imediatamente encantado pelo estilo e, desde lá, o mundo apresentou-me Machado de Assis para não mais esquecê-lo.
3. Quais autores são exemplo para sua carreira?
Machado de Assis, é claro, como dito acima: seu estilo é insuperável, numa simplicidade que fala do mundano como se fosse uma névoa fria e intangível a sobrevoar o homem, sem tocá-lo, mas o perscrutando. De Machado, o estilo, o bom e irretocável uso da palavra... Também, na poesia, Álvares de Azevedo e Castro Alves. Acho que um pouco de Augusto dos Anjos na parte “De Summa Scatologia” da obra “Os Contos de Mim” (veja no site). Na fantasia, meu terreno, venho acompanhando com grande entusiasmo o estilo de George R. R. Martin, autor de “As Crônicas de Gelo e Fogo”. Mas, como se notou, sou escritor de ficção fantástica, e, como tal, é patente (ao menos a mim) a influência dos ensinamentos do mestre J. R. R. Tolkien na minha criação de “Sannyar”. E como “O Silmarillion” (repositório de sua própria mitologia) era-lhe a joia mais preciosa dentre todas as obras (mais até que “O Senhor dos Anéis”), meu “Universo Sannyar” é-me a fonte maior de prazer criativo. Tolkien foi muito além de tudo o que havia em termo de fantasia à sua época: não só criou mundos mitológicos, mas deu-lhes vida de forma incomparável e com maestria, criando-lhes costumes, tradições, geografia, fauna, flora e tantas outras características próprias. Mas, principalmente (já destaco), línguas! Como filólogo profissional, criou línguas perfeitamente desenvolvidas, com gramática e vocabulário. Cada raça tinha a sua; algumas, muitas ramificações. É melhor parar: eu sempre me empolgo... Por fim, pretendo seguir o mestre Tolkien em tudo que puder. Deus me ajude!
4. Como você vê o mercado editorial nos dias de hoje?
Sou novato no grande mercado e não tenho nenhuma obra solo publicada. Participei apenas de antologias, com contos e poemas. Mas vejo que está numa crescente, em especial com o comércio virtual. Eu mesmo, morando numa cidade pequena, compus grande parte de minha biblioteca pela internet. As outras mídias, como o e-book, por exemplo, são mais uma abordagem válida da literatura ao público leitor, mas o livro impresso está longe de ser esquecido. Eu mesmo não abro mão de tocar o papel e rabiscar tudo o que quiser! Muita gente se diverte com meus exemplarescomentados... O que me parece, concluindo, é que as editoras precisam obviamente lucrar com seus produtos e, para isso, não se arriscam com autores novos e desconhecidos – ou lhes dão pouco espaço. Partimos, então, para um degrau da escada do sucesso por vez; são poucos que têm acesso ao elevador...
5. O que pensa sobre a crescente “invasão” da literatura fantástica no mercado?
Que bom! Pois quero estar nela e nele! Sempre haverá produção para onde há público, e o público desse gênero está crescendo. O que são senão fantasia – ou ficção fantástica – os inúmeros jogos de RPG e video games cada vez mais presentes entre crianças, adolescentes e os próprios adultos? Ou os quadrinhos, desenhos animados e filmes? O lúdico nos tira da realidade, mesmo que por momentos, e nos mitiga as dores e frustrações da vida: um bálsamo desejado. Na fantasia, somos o que quisermos e vemos personagens que são maiores que a vida: isso é sempre deslumbrante. Se a literatura fantástica está “invadindo” o mercado, é a eterna lei da oferta e procura. Espero que sempre haja demanda!
6. Qual a sua visão sobre séries de sucesso, como “O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter” e “Crepúsculo”?
É, já ficou mais que clara minha visão sobre “O Senhor dos Anéis” e o mestre Tolkien, seu autor, acima... Relembro, acho que devo, que a obra do professor inglês é unânime entre fãs e críticos, algo muito raro na ficção fantástica. A culpa, se se pode assim chamar, deve-se atribuir à crítica de “literatura séria”, que despreza o gênero: um pouco pela baixa qualidade da maioria da produção e outro pouco pelo próprio preconceito com a fantasia, dita “não séria”. Muito da “literatura séria” me entedia a ponto de travar a leitura e fazer-me babar de sono sobre suas páginas... Mas pretendo, um dia, evoluir o suficiente para apreciá-la como merece e como ainda, penso eu, não compreendo. Fica assim. De “Crepúsculo” e desdobramentos não sou grande fã: perdoem-me a franqueza; ou não. Tenho minha própria Bella (muito melhor!); deixo aquela ao literalmente brilhante Edward. Apesar da boa porção de fantasia que há na história (e apreciei muitas coisas), a narrativa não me agrada, não porque não seja boa, mas simplesmente uma questão de gosto: o açúcar que escorre a cada página gruda nos meus dedos e me atrapalha... “Harry Potter” é algo à parte. J. K. Rowling conseguiu me conquistar com história e estilo: coisas indissociáveis para minha prazerosa leitura. Como o próprio mestre Tolkien dizia, não podemos menosprezar a capacidade das crianças, querendo-lhes impor o que compreendem ou não. E nisso Rowling foi precisa: a abordagem inicialmente vista como infantil amadureceu com as próprias personagens durante a história, e isso não intimidou em nada as crianças e os jovens. É uma saga muito criativa e bem desenvolvida. Mas, como em Tolkien com “O Silmarillion”, sinto falta de um compêndio de história crua, não romanceada, sobre origens e tantos outros detalhes do universo de Harry (além do que há em “Os Contos de Beedle, o Bardo”, “Quadribol Através dos Séculos” e “Animais Fantásticos e Onde Habitam”). Fica a expectativa.
7. Quais ferramentas você considera que sejam essenciais para os autores iniciantes?
Leitura e escrita na medida certa. De outro lado, o computador facilitou, e muito, a produção – ou sua concreção. Sempre escrevo no computador, nele desenvolvo as ideias e os textos, mas tudo começa no papel, sempre...
8. Qual o maior desafio que já encontrou até hoje?
Prazos. Os prazos não se dão bem com minha preguiça e meu ritmo adagio para produzir; ou o contrário. Fico na maior felicidade quando as antologias, às vezes, prorrogam os prazos para envio de textos para seleção... Do resto, fica fácil – desde que sem pressa – criar as mais fabulosas histórias, os mais excêntricos personagens e as mais inusitadas línguas.
9. Fale um pouco de como está sua carreira literária no momento.
Agora, estou com 11 publicações, com uma para sair em setembro ou outubro deste ano, e mais umas duas ou três expectativas de antologias. Bem, tudo o que já publiquei está no site, onde também há uma amostra do que ainda não publiquei mas em que venho trabalhando nos últimos anos. Tenho dois romances estruturados, mas não concluídos, que pretendo enviar para análise de editoras no futuro, não agora: preciso trabalhar muito neles. Tenho também um repositório já grande de ensaios (citações, microcontos, máximas e pensamentos) do filósofo Mim: algo dele se pode vislumbrar no site. Deem uma olhada lá, vale a pena!
10. Dê uma dica para quem deseja se tornar um escritor.
Leia, leia muito, sim, mas escreva! Eu sempre escuto ou leio “Leia, leia muito...” Ora, se não escrever, como será “escritor”? A leitura trará experiência literária e enriquecerá o vocabulário e o estilo, mas a perfeição vem com a prática constante, como qualquer outra arte humana. Escreva. E persista no sonho. Com o tempo, o texto vai ficar melhor e assumir o seu próprio estilo. Não descarte ideias, anote-as todas. A mente não segue nossa ordem ao produzir; a criação, para mim, é caótica, como tenho anotado em meus manuscritos (19 de abril de 2007, às 21h21min): “Lápis e papel na mão! Pois as ideias são travessas, passam-se-nos na frente e correm; não precavidos nós, fogem.” Sei lá, é tanta coisa e nada ao mesmo tempo... Que não sei se consigo dar uma dica... Escreva! E por tudo o que há de mais sagrado: estude e conheça o português, nossa bela e tão profícua língua, que é a ferramenta de trabalho. Não há pedreiro que se preze que não saiba manejar sua colher e seu prumo; bom carpinteiro que não sabe usar o martelo e a plaina. Não dominar sua própria língua (ou o mínimo dela) é o mesmo que um cantor desafinado, um arquiteto que não sabe desenhar, um escultor sem cinzel, um pintor sem pincel... E o corretor dos programas de texto não vai suprir isso – não adianta.
3 comentários:
Ah! Estou ansiosíssimo para saber mais sobre esse tal de O. A. Secatto. Escritor, né? Ele tem site?
Então, eu acho que o site dele é: http://www.oasecatto.com.br/
mas vc vai ter que esperar pela entrevista!! srsr
Opa, um blog a seguir aki, jahq parei o meu de nutrição canina e felina hahaha, bjuz
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