"Colin assentiu, sem realmente prestar atenção. Estava muito concentrado em registrar seus pensamentos".
Colin Fischer é um livro interessante, bem-intencionado e muito bem-humorado. Entretanto, por algum motivo, ele não me cativou completamente.
Talvez seja pelo excesso de livros sobre autismo que tenho lido. Sem querer, nos últimos meses, li no mínimo quatro livros de ficção nos quais os protagonistas eram autistas. Isso é ótimo por um lado, pois me fez conhecer um assunto que era novo pra mim e ter mais sensibilidade para a questão. Porém, como alguns desses livros foram excelentes, de uma forma injusta mas inegavelmente comparativa, eu devo dizer que Colin Fischer deixou um pouco a desejar.
Os autores trabalharam muito bem a mente de Colin ao longo da narrativa. Sua forma de pensar, as razões para suas atitudes, a forma especial como ele vê o mundo. E Colin, em si, é um ótimo personagem. Extremamente inteligente, investigativo, prático e até mesmo um pouco sarcástico, ele conquista o leitor por si só. A narrativa que o permeia, porém, é um pouco fraca.
Com suas caracteríscticas de um Sherlock Holmes mirim, Colin, detalhista e perspicaz, adora investigar motivos e razões para tudo. Para a forma como as pessoas ao seu redor, seja em casa ou na escola, se comportam. Essa sua habilidade o torna fundamental para resolver um crime ocorrido no colégio onde estuda.
Era aniversário de uma colega, todos estavam no refeitório comendo bolo, até que uma arma é disparada. Ninguém se machuca, porém, levar a arma para a escola e, ainda por cima, dispará-la, já é um crime.
Logo, um aluno é considerado culpado. Um aluno, justamente, que muitas vezes ameaçava e judiava de Colin. E agora somente Colin pode ajudá-lo a ser inocentado, por meio de seus métodos investigativos.
Mentindo para os pais pela primeira vez, nosso protagonista, que possui Síndrome de Asperger (um ramo do autismo), se vê em locais inusitados e com companhias desagradáveis, enquanto trilha o caminho da verdade.
Um fator muito interessante do livro está na própria capa. Colin não consegue, por si só, dizer o que as expressões das pessoas demonstram, então ele possui imagens que lhe demonstram as expressões faciais e seus respectivos significados. Amigável. Nervoso. Surpreso. Tímido. Cruel, etc.
Além disso, ele anda sempre com seu caderno de anotações e possui algumas características peculiares, como ser sistemático quanto a seus pertences e não poder ser tocado - ele não gosta de aproximações físicas, a menos que elas sejam solicitadas previamente por algum motivo.
Os autores construíram uma história bem leve, cumpriram o objetivo de fazer os leitores entenderem o mundo de Colin e, consequentemente, terem um vislumbre do que significa o autismo e a Síndrome de Asperger. Além de, no início de cada capítulo, fazerem aberturas interessantes, com textos curtos, que fogem da narrativa, mas que de alguma forma adicionam valor a ela. O relacionamento de Colin com sua família - pais e irmão - é também interessante, embora não seja tão amplamente explorado.
Entretanto, em meio a essas qualidades, o texto ainda é um pouco carente de profundidade, reviravoltas e intensidade. O mistério não prende. Mas fica aqui a indicação de uma leitura rápida e interessante que, mesmo se não agradar completamente, ainda assim valerá a pena pelo próprio Colin - ele é uma graça e eu gostei de conhecê-lo.
Trecho: "O cano de metal preto ainda estava fumegante, a coronha de borracha manchada de chocolate branco e glacê cor-de-rosa. Os pais de Colin não tinham armas de fogo em casa, de modo que isso era o mais próximo que já vira de uma arma fora do coldre de um policial. Colin agachou-se ao lado dela, tomando o cuidado de não tocar em nada.
– Muito interessante – disse" (Pág. 54).
Informações:
Título: Colin Fischer
Autores: Ashley Edward Miller, Zack Stentz
Gênero: Drama
Editora: Novo Conceito
Páginas: 176
Borboletas azuis:
Agradecimentos à editora Novo Conceito, por ceder o livro para o blog. Saiba mais sobre ele clicando aqui.
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